A Hora do Espanto (1985) | Um Clássico do Horror

O que você faria se descobrisse que o seu vizinho é um vampiro? Essa é a premissa de A Hora do Espanto, um filme de terror de 1985 do roteirista Tom Holland, e o primeiro de sua carreira como diretor.

Essa capa é linda, né?

Alerta de Spoilers!

Como esse é um filme de 1985, vou deixar aqui o alerta de spoilers. Não vou contar como o filme termina, mas vou citar acontecimentos importantes, então, se você ainda não assistiu, prossiga com cautela.

A Hora do Espanto

Logo de início nós conhecemos o protagonista, Charlie Brewster e sua namorada Amy Peterson. Os dois estão ali dando uns amassos e a primeira coisa que você fica sabendo sobre o Brewster é que ele é muito fã de filmes de terror.

Enquanto eles estão ali se pegando, a TV tá ligada em um programa chamado Fright Night, ou a Hora do Espanto, que da nome ao filme.

Esse programa é apresentado por um cara chamado Peter Vincent, e nele são apresentados diversos filmes antigos de vampiros estrelados por esse cara.

É então que Charlie olha pela janela e vê dois caras carregando um caixão no quintal da casa ao lado. Eles levam esse caixão para dentro do porão da casa, que fica sob um alçapão no quintal.

O mais interessante é que enquanto um desses caras tá carregando o caixão com as duas mãos, o outro tá com uma mão no caixão e a outra no bolso do sobretudo, carregando na maior tranquilidade. Daí pra frente o Charlie fica de orelha em pé com esses vizinhos novos.

Mortes misteriosas

Não vai muito tempo e o jornal local começa a noticiar a morte de algumas pessoas, e uma das vítimas é uma garota que Charlie viu entrando na casa do seu vizinho.

Uma noite enquanto Charlie observa a janela do vizinho, ele vê o cara colocando as presas pra fora, pronto pra morder o pescoço de uma mulher. Charlie acaba se assustando e chamando a atenção do vampirão.

Daí pra frente é só pra trás. O Charlie chama a polícia pros vizinhos, os policiais vão até a casa dos caras, veem que eles são pessoas aparentemente normais e falam pra ele não perturbar mais. Além disso, a namorada do Charlie e seu melhor amigo Evil Ed também não acreditam nele.

E é então que ele decide recorrer ao seu herói dos filmes de vampiros, Peter Vincent.

Charlie espera Peter Vincent na saída do estúdio de TV. O ator sai do estúdio muito puto e fala pro menino que foi demitido porque ninguém mais quer saber de filmes de vampiro. Ele diz que agora as pessoas só querem ver filmes de homens malucos com máscaras de esqui matando garotas virgens, fazendo referência ao subgênero slasher, que dominou os filmes de terror a partir do final dos anos 70.

É então que Charlie conta que seu vizinho é um vampiro e é o responsável pelas mortes que estão sendo noticiadas no jornal. Peter Vincent chama ele de maluco e vai embora dizendo que esse tipo de coisa não existe. E sério, dá muita dó do Charlie porque o Peter Vincent é o herói do cara. Ele até veste um paletó pra ir falar com o ator, tudo pra ser tratado como um maluco qualquer.

Bem vindos à hora do espanto. De verdade.

Já que ninguém acredita nele, Charlie decide tomar outras providências. Quando Amy e Evil Ed vão até a casa de Charlie e veem o menino esculpindo uma estaca no quarto cheio de velas e alho pra todo lado, eles mesmos decidem pedir ajuda ao Peter Vincent.

Ele nega o convite de primeira, mas quando Amy oferece uma grana só pra ele ir até a casa de Jerry e provar que o cara não é um vampiro, ele aceita.

Então Peter liga pro Jerry e arma uma encenação, onde Jerry vai beber água de torneira como se fosse água benta.

O grupo se reúne na casa de Jerry e a encenação vai muito bem. Eles estavam indo embora quando Peter Vincent saca seu espelho de bolso e percebe que o cara não tem reflexo. Ele se assusta e derruba o espelho, que acaba quebrando.

Eles vão embora, Peter Vincent foge assustado e, enquanto Charlie e Evil Ed vão acompanhar Amy até sua casa, Jerry encontra um pedaço do espelho quebrado no chão de sua casa e vai atrás deles.

Os personagens de A Hora do Espanto

A Hora do Espanto não tem muitos personagens, mas praticamente todos eles são muito bem trabalhados ao longo do filme.

Evil Ed é o melhor amigo de Charlie e é aficionado por filmes de terror assim como ele. Ele é o estereótipo do garoto esquisito da escola, mas não é feito de maneira preguiçosa e é um personagem bem engraçado. O jeito estranho do personagem deixa de ser só esquisito e passa a ser assustador depois que ele é transformado em vampiro.

Amy é a namorada de Charlie e está sempre tentando fazer de tudo pelo garoto. Já no começo do filme você fica sabendo que ela estava na casa dele pra ajudá-lo com as lições da escola, já que Charlie está longe de ser o cara mais brilhante do mundo. Sua transformação em vampira é tão medonha que fez com que ela figurasse no poster do filme.

Peter Vincent é um ator falido que deixou seus dias de glória para trás há muito tempo e vive na sombra de seu passado. Ele é interpretado pelo brilhante Roddy McDowall e seu nome é uma referência à Peter Cushing e Vincent Price, dois atores clássicos do cinema de terror que também estrelaram diversos filmes de vampiros. O arco desse personagem é um dos mais interessantes do filme.

Charlie Brewster que é o protagonista da história mas que é um cara bem burrinho. Durante o filme nós vemos que ele vai muito mal na escola e até toma umas decisões bem ruins, tipo falar na cara dos policiais e dos vizinhos que acredita que eles são vampiros.

Ainda assim, a decisão que ele toma de enfrentar tudo isso pelo que ele acha ser certo é louvável. Qualquer outra pessoa em seu lugar, após o primeiro apavoro do vampirão, faria as malas e iria pro México. O Charlie não; ele bate o pé e, mesmo que ninguém acreditasse nele, ainda assim ele enfrentaria o Jerry.

Jerry Dandrige, um dos melhores vampiros do cinema

E meus amigos, Jerry Dandrige entra facil na lista dos vampiros mais foda do cinema. É sério, o cara tem todas as características dos vampiros clássicos. Ele é bonito, ameaçador, sedutor, e essa sedução não se resume à mulheres; ele é manipulador e demonstra um carisma que o deixa acima de qualquer suspeita. Interpretado pelo excelente Chris Sarandon, que foi indicado ao oscar por sua atuação em Um Dia de Cão e que também faz a voz de Jack Skellington em O Estranho Mundo de Jack.

Tem uma cena dentro da casa do Jerry em que ele aparece no topo da escadaria e tem um vitral circular enorme atrás dele. O cara vai descendo degrau por degrau da forma mais casual do mundo com um sorrisão no rosto, e mesmo assim ele consegue passar um senso de perigo pro espectador.

Uma estreia com o pé direito

E isso se deve não só à atuação do Chris Sarandon, como também ao show de direção que o Tom Holand dá em seu filme de estreia. Desde a escolha das câmeras, muitas vezes assumindo um ponto de vista em primeira pessoa do que seria o Jerry transformado em morcego, voando pela cena, até os efeitos práticos incríveis e perturbadores.

Esse filme tem um momento que bate de frente com aquela cena de transformação em Um Lobisomem Americano em Londres, quando um dos vampiros é morto enquanto transformado em um lobo e vai voltando aos poucos pra sua forma humana, passando por uma espécie de híbrido bizarro.

A trilha sonora do Brad Fiedel ajuda a construir a atmosfera sinistra do filme, com sintetizadores e baterias eletrônicas como a fantástica faixa Come to Me, que é a música mais marcante de todo o filme.

Arcos de personagens e detalhes enriquecedores

E uma das coisas mais incríveis nesse filme é que mesmo sendo bem simples, ele abre diversos arcos de personagem e fecha praticamente todos no final. Os poucos elementos que aparecem durante o filme e não são importantes para a história ainda assim servem ao propósito de reafirmar algumas atitudes dos personagens.

Por exemplo o quadro na casa do Jerry, que mostra uma mulher praticamente idêntica à namorada do Charlie, a Amy. Ele e seu lacaio trocam um breve diálogo à respeito dessa mulher, dando a entender que é um amor antigo do Jerry, talvez de séculos atrás. Isso acaba justificando a atitude do Jerry de seduzir a Amy. Mostra que talvez ele não tenha seduzido a garota só para brincar com o Charlie, e sim porque ele viu uma semelhança com um amor de uma outra época.

A Hora do Espanto também tem os elementos das histórias clássicas de vampiros, como aquelas regras do tipo; o vampiro só pode entrar na sua casa caso você o convide, ou que os vampiros não tem reflexo, que eles são vulneráveis a agua benta, cruzes, alho e etc. O filme não só utiliza alguns desses elementos de forma inteligente como também brinca com alguns deles.

Em um momento Evil Ed diz para Charlie que um vampiro não pode entrar em sua casa sem ser convidado, e quando o Charlie chega em casa  sua mãe convidou o vizinho vampiro para entrar e tomar um café.

E por falar na mãe do Charlie, ela é a única personagem que realmente é mal aproveitada. Parece que ela tá no filme só pra deixar o vampiro entrar na casa mesmo.

Outro bom exemplo é como as cruzes não afetam o vampiro se a pessoa que a segura não tiver fé, e Jerry esmaga a cruz na mão de Peter Vincent.

No início do filme nós vemos o lacaio de Jerry pintando o vidro das janelas do porão de preto, pra evitar que qualquer luz entre. E esse mesmo porão vai ser um lugar importante lá no final do filme.

Vale a pena?

São esses pequeno detalhes que engrandecem tanto A Hora do Espanto. É um cuidado de fazer um filme bem amarradinho, onde cada pequena coisa importa e cumpre seu propósito no final.

Não é à toa que A Hora do Espanto é um dos filmes de terror mais queridos de todos os tempos pelos fãs do gênero. Vale muito a pena assistir esse clássico. Aproveitem que está na Netflix e confiram a crítica no vídeo abaixo.

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Flávio Santo

Sou escritor, roteirista, e maluco por livros, filmes e contos de terror. Criei o Horror Arte em 2022 para falar sobre esse gênero tão querido, presente em praticamente tudo que produzo e opto por consumir.

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